segunda-feira, 8 de setembro de 2014

À Descoberta de Palheiros I

Casas esborralhadas junto à fronteira

Desde que Palheiros entrou no meu imaginário, que andava com a ideia conhecer e fotografar as ruínas da antiga  aldeia, destruída nas escaramuças entre portugueses e espanhóis, nos anos que se seguiram à Restauração da Independência de Portugal, em 1640.




No foto, localização da Cota de Mairos ou Alto da Escocha, aerogeradores, ruínas junto ao rigueiro de Palheiros e a  linha da raia,  demarcada pelo Tratado de Lisboa, em 1864, mas só ratificada em 1906. Perdida na fronteira inóspita, não foi tarefa fácil descobrir a Machu Pichu raiana.


1º Dia

No primeiro dia, saindo de Travancas, em bicicleta, encontrei, no alto da Fonte Fria, a cuidar de castanheiros enxertados, o senhor Manuel Santos, caçador de Argemil, que me indicou o caminho para  chegar ao lugar.



Descendo para o rigueiro de Palheiros, por um caminho íngreme e pedregoso, rodeado de altas giestas, passei por um potente canhão de água que regava o milharal do informador. Numa curva, como que por magia,  surge a aldeia de Florderey. A vista é fantástica.



Calheia por onde deveria passar para chegar às ruínas. Como não compreendesse a palavra - um regionalismo -  e pedisse ao senhor Manuel para a repetir, ele explicou-me, meio atrapalhado, que calheia é  um caminho antigo e estreito com muros de pedra.
Para quem aprecia o contato com a natureza, o trajeto é tonificante.



Alguns dos lameiros onde o Ruço, nomeada do caçador, bota as vacas a pastar.


Montes de feno, para alimentar o gado no inverno. 


As ruínas de Palheiros ficam aqui perto, à esquerda, antes do tanque, mas não encontrei o sítio - segui em frente e para a direita  -  regressando  a Travancas pelo caminho da ida. 













 2º Dia 
À descoberta de Palheiros



No segundo dia à descoberta de Palheiros, saí outra vez em bicicleta  mas em direção ao  Vale da Preta. De lá, desci pelo caminho da Faceira até à fonte Salgueiro, onde outrora existiu uma pia, para matar a sede aos viajantes  e montadas dos romeiros portugueses  que se dirigiam a Vilardevós. Neste concelho galego, um hospital e um albergue da Ordem de Malta, acolhiam e davam tratamento aos peregrinos de Santiago de Compostela.


Mais abaixo, a poucos metros da fronteira, na Faceira, num lameiro do José Maldonado e numa terra pegada, do Nicolau, encontrei dois casarelhos de pastores que, sendo belos exemplares do património edificado agro-pastoril,  atestam a importância do pastoreio nas terras da raia.


Passagem de pedras, na Faceira, sobre o regato de Palheiros. Portugal fica em primeiro plano.
 


Calheia abandonada.
Desde que a fronteira alfandegária foi abolida em 1986, contrabandistas e outras pessoas deixaram de usá-la para ir a Arçádegos. Agora é mais fácil, vai-se de carro e não há guardas-fiscais.

Mas, porque não limpar o caminho com um trator, permitindo que adeptos do sanderismo façam caminhadas ecológicas até às históricas ruínas?



Daqui para baixo, o caminho que, pelo lado esquerdo, conduz às ruínas, está coberto de vegetação. Caminhei, debaixo de gestais e levando a bicicleta pelas mãos...



...até encontrar  uma vereda que pastores de Argemil utilizam para subir com o gado ao Vale Grande.


Tal como na tarde anterior, andei às voltas,  incluindo por lugares onde já estivera,  sem descobrir as casas arruinadas de Palheiros.


Desolado, fui-me embora sem voltar para trás, indo em direção ao caminho que leva ao posto de vigia florestal.
Para ultrapassar a vedação, a vedar a passagem no "caminho público" de Argemil a Arçádegos,  deitei a bicicleta por cima e rastejei-me.


Depois, subi a íngreme encosta, situada  em primeiro plano, por um caminho que vai dar aos estábulos do senhor Carlos, conhecido pela nomeada de Cacá.



Já quase no alto, uma placa do PRODER - Programa de Desenvolvimento Rural - informa que no local está em curso um investimento total de 163.180,48 euros, para reflorestamento dos baldios de Argemil, financiado pela União Europeia em 130.544,38 euros.


Dirigi-me ao posto de vigia florestal, onde, por sorte, o senhor Manuel Santos fazia companhia à esposa, a trabalhar lá como vigilante. Embora já me tivesse prometido que me levaria às ruínas, caso não desse com elas, foi a mulher, mais afoita, que lhe disse: "Leva-o lá no trator!" E ele levou!
À "Descoberta de Palheiros" vai coninuar.



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