sábado, 15 de março de 2014

Roriz no Caminho de Santiago

Antigo albergue de peregrinos em ruínas

Em Roriz existiu um albergue para os peregrinos de Santigao de Compostela que,  vindos, possivelmentre,  de Santa Valha, onde havia outro albergue, passavam por Lebução, Tronco, Cimo de Vila da Castanheira e por estas terras do Planalto de Travancas, em direção aos albergues de Vilardevós e Verim, na Galiza.




Nos dias de hoje encontra-se em ruínas. Os tijolos, na fachada do piso superior, indiciam que já houve tentativa de evitar a degradação do edifício, insuficiente, como se pode observar.



Aquando da sua edificação, contrastando com os casebres de colmo, da aldeia, terá tido cobertura de telha e paredes caiadas, a exemplo das ricas casas citadinas.



Quanto à sua propriedade, privada, não é de excluir que tenha sido património da Igreja até à extinção das ordens religiosas  no século XIX. Só que, tal como aconteceu  a muito do património confiscado pelo Estado, tal como propriedades agrícolas, conventos, obras de arte e outros bens materiais, com o decorrer dos tempos terá passado para mãos particulares.




Apesar do estado de abandono em que se encontra, o antigo albergue conserva na fachada alguns elementos decorativos que valorizam o histórico património.



Cruz e voluta dupla - ornato entalhado no granito em forma de espiral.



Bonito lintel - padieira de granito sobre a ombreira da porta - datado de 1782, em baixo relevo. A data de MDCCLXXXII, em algarismos romanos, deve ser a da construção do albergue, no reinado de Dona Maria I, a Viradeira, por seguir uma política de apoio à igreja, oposta à de seu pai, Dom José I, cujo primeiro-ministro, o Marquês de Pombal, se notabilizou pela perseguição aos jesuítas.



Ombreira e nicho dedicado às alminhas do Purgatório, encimado por uma cruz e voluta dupla. O pequeno altar, incrustado na frontaria do albergue, hoje considerado património artístico-religioso do mundo rural, noutros termpos era um elemento de culto aos mortos, onde se parava por um momento para deixar uma oração.

IRMÃOS
AJVDAÐ
NOS A SA
IR DESTAS
PENAS
Irmãos, ajudade-nos a sair destas penas
Inscrição em baixo-relevo, em pedra parcialmente soterrada, pelo empedramento da rua.



Fachada lateral do imóvel, no Beco da Lampaça, decorada com cornijas e gárgulas, além de cunhal e ombreiras em propianho. 



Porta de entrada, acessível por escaleira lateral, feita em cantaria e ladeada por duas colunas trabalhadas, uma das quais a ser substituída por um caibro.



Pormenor artístico, com baixo-relevo em caracol, ornamentação típica das escadarias monumentais de Casas Grandes e solares. De notar como as pedras de granito, cortadas e bujardadas, sem recurso a maquinaria, encaixam umas nas outras para dar forma ao corrimão.



 
É provável que todo o trabalho de ornamentação, nas duas fachadas e na escaleira, não tenha sido obra de simples pedreiro mas de mestre na arte de talhar e cinzelar a pedra dura.  





Além deste antigo albergue, Roriz. aldeia de montanha, tem um vasto e rico património de arquitetura e cultura tradicionais, algum, aliás, bem preservado e restaurado.



Tudo continuará a ir pelo melhor se cada um zelar pelo seu património e todos pelo que é do domínio comum!  Se a união faz a força, porque não seguir o lema "um por todos e todos por um"?



Não caberá à Câmara Municipal de Chaves,  fiel depositária do património municipal, a iniciativa de restaurar o velho albergue,  recorrendo, através de apresentação de projeto, a financiamentos da União Europeia, disponíveis para  ações de valorização do património cultural europeu?




E porque não transformar a antiga escola primária, ao lado, há anos abandonada, em anexo de um novo albergue de peregrinos, adaptando os dois edifícios às necessidades culturais do século XXI? Ganhariam eco-turistas, caminheiros, peregrinos de Santiago, município de Chaves e União de Freguesias de Travancas e Roriz!



Reconhecendo a importância da cultura no processo de unificação dos povos europeus, o Conselho da Êuropa instituiu  em 1987 o Programa Itinerários Culturais, com  o objetivo de conhecer, salvaguardar e valorizar o património cultural europeu, entendido como recurso importante para o desenvolvimento social, económico e cultural.  Os Caminhos de Santiago, pela sua importância na aproximação cultural dos povos europeus, foram a primeira rota a ser  oficialmente reconhecida.






Em   Portugal há itinerários identificados e  demarcados. Porém, no planalto que vai da Pedra Bulideira a Travancas,  apesar de existência do albergue de peregrinos em Roriz, e do santo ter o seu culto em localidades próximas - capela de Mairos e igreja de Tronco, onde é patrono - o estudo do itinerário jacobeu, nestas terras raianas, está por fazer, ser divulgado e oficialmente reconhecido.



No São Tiago vai à vinha e encontras bago! - diz o senhor Abílio Rodrigues, de Tronco, para justificar a existência do cacho de uvas na mão do padroeiro.



A desertificação demográfica das nossas aldeias é uma triste realidade. Não ficar à espera que poderes exteriores tragam soluções que contrariem o despovoamento do Planalto Ecológico de Travancas é o desafio que  me proponho abraçar. Assim, para tornar a União de Freguesias em polo de fixação e de atração de pessoas,  dou o meu contributo, batalhando, desde já, para colocar Roriz e  Travancas no mapa dos Caminhos de Santiago! Vamos, de mãos dadas, empenhar-nos  nesta causa, todos juntos!




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