quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Fumeiro à Nossa Moda

Saberes e sabores da terra


Numa altura em que decorrem, de janeiro a março, feiras do fumeiro em Boticas, Montalegre, Macedo de Cavaleiros, Chaves, Vinhais, Miranda do Douro e noutras terras transmontanas, convém lembrar que as iguarias gastronómicas lá compradas, por alguns de nós, são feitas em aldeias de nomes desconhecidos, por mulheres detentoras de um saber transmitido e aprimorado de geração em geração.






Travancas, terra de montanha, é uma dessas aldeias onde se produz fumeiro de excelente qualidade, para consumo doméstico ou para venda direta ao consumidor.




A dona São é o único caso de produção artesanal em que a venda também é feita na Feira do Fumeiro de Chaves, a realizar de 3 a 5 de fevereiro de 2012.





Graças ao Beto, pude ver a sua mãe, a tia Alzira, a prima Maria e a namorada, de Arçádegos, a fazer o fumeiro "como antigamente" - frisa a mãe, com um sorriso de satisfação e uma pontinha de vaidade, justificada.



E que rico fumeiro elas fizeram! Da primeira vez que as vi a trabalhar, poucos dias depois  da matança, faziam salpicões com a carne do lombo, sorsada - tempêro de vinho, alho e pimentão.



Antes, tinham feito as sangueiras, as bucheiras, as linguiças, os chouriços de calda e encheram os buchos.


Beto, autor da foto
Festa de São Sebastião em Cimo de Vila da Castanheira 

No dia de São Sebastião, 20 de janeiro, voltei para as ver fazer "Alheiras de Mirandela à moda de Travancas". Por isso vim cedo das festas de São Sebastião, em Couto de Dornelas e Alturas de Barroso, concelho de Boticas.



No dia anterior, o pão trigo, encomendado a uma padaria de São Pedro Velho, em Mirandela, especializada no fabrico de pão para alheiras,  com pouco fermento, tinha sido cortado em fatias e guardado em alguidares.


Nos potes, é cozida a carne de porco (couracha, cabeça...)  e o peito de frango caseiro cuja água  é despejada no alguidar sobre o pão, a que se junta a carne bem desfiada e uma pitada de sal.



Calda das alheiras já pronta, a que se acrescentou alho bem picado, refogado em bom azeite da Terra Quente e pimenta doce.



Enchendo as tripas com máquina apropriada, em substituição da antiga funila e do fuso.



Tripas de porco, já cheias, prontas a serem atadas e cortadas.


O mais bonito céu transmontano!
'Alheira à nossa moda', sem lobies para lhe ser atribuído o galardão de uma das Sete Maravilhas da Gastronomia Portuguesa mas um  regalo para os olhos e uma delícia para o paladar.


Anterior matança do porco em Travancas da Raia. Clicar em:

Matança do reco - A tradição ainda é o que  era








2 comentários:

Romualdo Gersosimo disse...

Feliz aquele que tem a oportunidade de ver o fabrico dessas delicias portuguesas. Sou neto de avó Portuguesa de Coimbra criada no Porto por tios após a morte de seus pais. Ainda hoje após 50 anos de seu falecimento ainda sinto o cheiro das alheiras feitas por minha avó Cecilia Pinto de Almeida. Infelizmente não deixou receita por escrito. Já fiz várias vezes alheiras porém nenhuma com o cheiro e o sabor das feitas por minha avozinha. Saudades, muita saudades.
Romualdo Gersosimo, São Paulo, Brasil.

PEREYRA disse...

Sr Romualdo,

A melhor maneira de matar saudades aos sabores e aos cheiros da sua infância, é vir cá durante a época das matanças! Já pensou nisso? Alguma destas senhoras não deixará de lhe dar uma receita, para fazer as alheiras, "À moda da nossa terra", em São Paulo, no inverno austral.
As melhores saudações.