terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fumeiro da São

Saberes e sabores da terra

O senhor Zé e a dona Conceição, sua esposa, fazem da matança do reco  uma forma de completar o rendimento familiar. O fumeiro produzido, segundo o tradicional método transmontano de cura, é vendido ao consumidor, na unidade familiar e na Feira do Fumeiro de Chaves. 




Um convite à gula

Há dias, provei um destes salpicões e confesso, sem exagero, que nunca outros me souberam tão bem. Já há vários anos que me habituei à excelente qualidade de alheiras, bucho, chouriças e salpicões feitos pela dona São. Este ano comprei-lhe um  presunto  do ano anterior e também o achei saboroso, sem sal em excesso.  O único senão é a gordura a mais. Mas este é um problema cultural  porque em Trás-os-Montes gosta-se que as cevas estejam bem gordas na altura da matança.


As feiras de fumeiro, em Trás-os-Montes, têm contribuido para o aumento da procura. A dona São vende na de Chaves, este ano realizada entre quatro e seis de fevereiro de 2011.

Espero que ao aumento da produção artesanal, forçado pela procura, não corresponda uma diminuição da qualidade.


Cozido à transmontana



Domingo passado, a dona Maria, de Águas Frias, convidou-nos, a mim e à minha mulher, para almoçarmos, em sua casa, um cozido.  Ela sabe que aprecio este conhecido prato da gastronomia transmontana.  


Juntando o fumeiro da São, as batatas e couves de Travancas, à esmerada arte da cozinheira, o resultado é uma saborosa refeição, regada com um reserva tinto,  de Santa Valha, digno de Baco.
Quem não é servido?


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Nevadas de Ontem e de Hoje

Outro nevão na Terra Fria raiana

Nevada de Natal de 1965
Tantas crianças que havia na altura! Alguém sabe quem são?  Hoje, contam-se pelos dedos de uma mão, as que moram na aldeia. Será sinónimo de progresso, a terra esvaziar-se de gente? Se a maior riqueza de uma região é o elemento humano, será caso para meditar se no último meio século,  a aldeia enriqueceu ou empobreceu. Perantre a conclusão, óbvia, entristece-me o descalabro demogtáfico - hélas - não contrariado por trinta e cinco anos de regime democrático.


Na noite passada e no dia de hoje, a neve voltou, silenciosa e fria,a cobrir de branco as terras altas da raia transmontana.


Em contrapartida, em meio século de hemorragia populacional, construiram-se novas e alindadas moradias, parte delas para ficarem vazias, às temporadas.



A partir de Travancas, o olhar abarca de branco a Terra da Frieira galega, a Sanábria e a Terra de Lomba; as serras da Nogueira, de Bornes e a Bolideira; as serras do Gerês, Barroso, Larouco e a Cota de Mairos. 




"Teño morriña, hey, teño saudade, porque estou lonxe de eses teus lares"
Julio Iglesias


O rigueiro que existia sob a Rua de Camões, separando bairros da aldeia, ainda é do tempo das meninas.


Entretanto, antes do aparecimento das máquinas de lavar roupa, foi construído um lavadouro público, atualmente com pouca serventia.

As nevadas de hoje não são como as de antigamente.


Naqueles tempos a neve ficava alta por vários dias.

A neve que caiu hoje derreteu ao longo do dia. A Câmara de Chaves, entretanto, enviou a estas terras da "montanha", pela primeira vez, uma carrinha, adaptada a máquina limpa-neve.




A meio da manhã a circulação de Travancas para Chaves, fazia-se com normalidade, adequada ao estado do tempo.



Amanhã, veremos o que acontece...


Nota: fotos de arquivo

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Castanheiro Centenário Abatido

Oração florestal


Foto tirada por João Pedro S. Pereira em 05-02-2005


Súplica da árvore ao viandante

Tu que passas e ergues para mim o teu braço,
Antes que me faças mal, olha-me bem.
Eu sou o calor do teu lar  nas noites frias de inverno.
Eu sou a sombra amiga que encontras
Quando caminhas sob o sol de agosto,
E os meus frutos são a frescura apetitosa
Que te sacia a sede nos caminhos.
Eu sou a trave amiga da tua casa, sou a tábua da tua mesa,
A cama em que tu descansas e o lenho do teu barco.
Eu sou o cabo da tua enxada, a porta da tua morada,
A madeira do teu berço e o conchego do teu caixão.
Eu sou o pão da bondade e a flor da beleza.
Tu que passas, olha-me bem e... não me faças mal.

Albano Q. Mira Saraiva



Travancas perde património florestal

Havia no Vale da Bouça um castanheiro monumental com várias centenas de anos.  Era o de mais proveta idade, dos velhos castanheiros que durante séculos alimentaram os nossos antepassados, em caldos de castanha, e engordaram as cevas, com bilhós. Era acarinhado. Já os celtas, de quem descendemos, veneravam os castanheiros pela magia e abundância de alimento que deles pingava. Em Travancas, não havia outro castanheiro que igualasse o tronco deste, em envergadura lenhosa. Era tão grosso que só vários homens,  dando as mãos, conseguiam abraçá-lo.


Foto tirada por euroluso em 21.11.2009

Durante séculos, imponente e grandioso, sobreviveu às doenças, às intempéries e ao machado. Sucumbiu no século XXI, à força da motoserra, empunhada pelo homem predador. Desconheço quando foi deitado abaixo, quem o fez e com que propósito. Sei que deve ter sido cortado por fases, como sugerem as fotos. Sei que fiquei triste, quando vi um espaço vazio, no lugar onde me habituara a admirar o seu porte majestoso. 


Mais abaixo, ainda no Vale da Bouça,  restam dois ou três castanheiros, de uns duzentos anos, que devem deixar de merecer a nossa indiferença e passarem a ser vistos como aliados e amigos do homem.




Espero que estes espetaculares seres vivos não sofram o destino do mais antigo castanheiro de Travancas e que o homem, respeitador da natureza, saiba honrar a memória de todos os que lhes deram vida e os conservaram durante séculos.
 
 
Porque não fazer um levantamento do património florestal  da freguesia, considerando o seu interesse cultural? Porque não seguir o bom exemplo de São Vicente da Raia, onde um secular castanheiro é motivo de orgulho e está classificado como árvore de interesse público? Falta, no entanto, a Junta colocar, no tronco do ex-libris, uma placa a atestar-lhe a idade, de modo a publicitar a aldeia a nível cultural e turístico.
 
 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Primeira Nevada de 2011

Neve de palmo e meio!


Dia 27 de janeiro de 2011, Travancas, Argemil e São Cornélio acordaram cobertas de um manto branco de neve, de "palmo e meio de espessura no vaso do craveiro", assegurou a vizinha, num manifesto exagêro, quando se levantou e foi à varanda ver o nevão.





 
Durante o dia a neve continuou a cair . O frio que se fez sentir não a deixou derreter logo, conservando-a durante uma semana nos lugares menos expostos à luz direta do Sol.






























Morreu o Berto


Recebi, com pesar, a notícia do falecimento do senhor Alberto Fontoura, marido da Dona Elza. Conhecia-o de o ver no terraço da sua casa, quando estava no linhar ou passava na rua.



Era homem de poucas falas, como eu. No entanto era um vizinho afável, por quem nutria empatia. Caiu para o lado e morreu como passarinho, durante o voo.


Sentidas condolências à família e que Deus o tenha junto de Si.


Nota: fotos de arquivo