terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Adeus Ano Velho

Bem-vindo Ano Novo

Mensagem


Papa Francisco
"Não chores pelo que perdeste, luta pelo que tens. Não chores pelo que está morto, luta por aquilo que nasceu em ti. Não chores por quem te abandonou, luta por quem está contigo. Não chores por quem te odeia, luta por quem te quer. Não chores pelo teu passado, luta pelo teu presente. Não chores pelo teu sofrimento, luta pela tua felicidade. Com as coisas que vão nos acontecendo vamos aprendendo que nada é impossível de solucionar, apenas siga adiante..."


Monumento à paz em Luena, Angola
Tempo novo, vida nova: paz na Terra aos homens. 



quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Boas Festas

Que a Luz da sabedoria 
se sobreponha
às trevas da ignorância



 Bo Nadal

Prettige Kerstdagen
Merry Christmas
 Feliz Navidad
 Joyeux Noël
 Frohe Weihnachten
 
Kusjes te Lowie en Charlotte



segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

As pencas do Natal

Famosa couve portuguesa

Há muitas variedades de couve: lombarda, galega, tronchuda, coração de boi, roxa, repolho, brócolos, flor, Bruxelas, etc. mas nenhuma é tão apreciada na época natalícia como a penca. Em Trás-os-Montes não há ceia de Consoada em que ela não acompanhe batatas cozidas com bacalhau ou polvo, regados com azeite.


Couval de Travancas com couves do Natal. A penca raiana, embora seja saborosa,  não é famosa como a penca de Mirandela, cujas sementes são certificadas.



A transplantação da penca, ou couve portuguesa, como é designada fora de Trás-os-Montes, é feita em agosto. Deve ser regada, para as raízes se agarrarem à terra, mas sem ser em demasia.







A Brassica oleracea var. costata, nome científico da penca, é uma variedade de repolho fechado que normalmente ultrapassa os quatro kg. Tem caule curto, folhas grandes e largas; cor verde claro e talo carnudo. É bastante rústica e resistente ao frio, aguentando temperaturas até oito graus negativos.









A partir do Advento a couve plantada em agosto começa a ser colhida.


O polvo faz parte da gastronomia transmontana e, tal como o bacalhau, é servido à mesa, acompanhado com batatas e couve penca.


De horta para horta, um olho bem treinado descobre pequenas diferenças entre as pencas. Umas ligeiramente mais escuras, outras com talos mais largos; umas mais fechadas, outras mais abertas, etc..

Mas todas são couve penca, couve do Natal.







quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Terras da raia sob névoas

Na estação celta da escuridão

Druída celta e o caldeirão mágico
Os primitivos habitantes da Terra Fria transmontana foram os celtas, povo do qual herdámos, além do ADN, costumes pagãos que, embora proscritos pelo cristianismo, sobreviveram em povoações mais isoladas.


Aqui bem perto, em Cidões, concelho de Vinhais,  ainda se festeja  no equinócio de outono, a passagem da estação da claridade (primavera e verão) para o tempo da escuridão (outono e inverno). No calendário celta só há estas duas estações do ano.


A estação da escuridão, aquela em que nos encontramos, vai até ao equinócio da primavera, em março.



 
Este é o tempo em que, quando a noite é mais longa que o dia, a natureza hiberna.


 
É o tempo em que, quando as brumas cobrem as aldeias da montanha...


Emerge do nevoeiro Cailleach,  deusa dos ventos frios e das mudanças; senhora do inverno, mais antiga que o próprio tempo.


Mago a fazer queimada - poção mágica que aquece o corpo - observado por três deusas celtas. Os aldeões dão-lhes o nome de bruxas; meigas, em galego.

Esconjuro
parte final

"Forças do ar, terra, mar e fogo,
a vós faço esta chamada:
se é verdade que tendes mais poder
que a humanas pessoas,
aqui e agora, fazei que os espíritos
dos amigos que estão fora,
participem connosco desta Queimada.

Em São Cornélio, sob a névoa, perdida a noção de abóbada celeste, abarcando o zénite e o nadir, deixo de sentir a veiga de Aquae Flaviae aos pés; deixo de me sentir senhor de todas as montanhas abarcadas pela vista, do meio-dia ao setentrião. 



No denso nevoeiro, nem sequer avisto, ali arriba, o Alto da Escocha, onde a Gallaecia se divide em duas, a do norte e a do sul. 

Adentrando no imaginário de lendas celtas, vejo Nimue, a Senhora do  Lago, mergulhar nas águas da barragem do Vale das Tábuas, morrendo por amor.


No silêncio  das brumas, o ruído do trator e o cheiro a estrume,  despertam-me do encantamento e devolvem-me à realidade.


Regresso a Travancas, outrora designada Capital da Batata, Travancas da Raia  e Travancas de Monforte.

 "Portal" por onde, no Reino Maravilhoso, se entra e sai da magia raiana.




Há milénios, na noite sagrada de 31 de outubro, no shamhain, festa de passagem para a estação da escuridão, os celtas faziam uma fogueira para honrar os mortos e oferecer-lhes comida.  Desse costume, ficou o  magusto, fogueira onde se assam castanhas, mas despojado da ligação simbólica ao culto dos mortos.



As névoas vão continuar até março mas dentro de dias festeja-se o Natal, nascimento da LUZ, coincidente com a festa celta que celebra o Solstício de Inverno. Aqui na raia, este ano, à falta de nevadas e geadas,  por causa das alterações climáticas, valham-nos as brumas que nos envolvem de magia!

domingo, 13 de dezembro de 2015

Choremos!

          Os  sinos dobram  por Francisco


Reflexões


"Quando morre um homem, morremos todos, 
pois somos parte da humanidade"





Lembra-te homem que és pó
e ao pó tornarás.
Génesis, 3:19




terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A matança do reco

                    Tradição que não morre 

Em dia de feriado, em honra da Imaculada Conceição, o senhor Eduardo não matou uma, nem duas, mas três grandes cevas.


Na matança dos porcos juntaram-se-lhe quatro vizinhos.

 Um deles, na transição para a adolescência foi assistente de matador.


Herdeiro de uma tradição que se perde no tempo, o matador, hoje, é ele!



A solidariedade nas relações de vizinhança da gente raiana, remontando a tempos que se perdem nas brumas do passado, ainda é o que era, um forte fator de coesão  social.



Assente na torna-jeira, a entre-ajuda, vinda do tempo em que a circulação de dinheiro era diminuta,  foi o sistema de organização do trabalho que as comunidades rurais criaram para sobreviver ao isolamento, à adversidade do relevo, do clima  e à escassez de recursos económico-naturais.



Às mulheres não está reservada a função de meras espectadoras  de um ritual em que o elemento masculino  é  o rei. 


No dia da matança as senhoras entram em ação, na coagulação do sangue;  na lavagem das tripas e na feitura da primeira refeição com carne da ceva. Dias depois, participam no desmanche do suíno e são elas a fazer o fumeiro, para goberno da casa ao longo do ano.



O ritual passa por quatro operações fundamentais: matar a marrã, chamuscá-la, lavá-la e abri.la, deixando-a a enrijar um dia ou dois, antes  do desmanche.


O feriado em honra da padroeira de Portugal, amanheceu com nevoeiro e  pluvioso. Às 8h30 o cuincar do primeiro reco ecoou pela aldeia. Seguiram-se os outros dois berrantes. Mas em Travancas há quem use pistola silenciadora.



Devido à chuva, os recos foram levados para  o interior do armazém, onde foram chamuscados e abertos.


A força necessária de vários homens para colocá-los no trator.



Antigamente chamuscava-se a pele do reco com palha de centeio ou carqueja.


Agora usa-se o maçarico a gás. Com ele torna-se mais fácil raspar a pele, com faca e sachola; limpar orelhas e arrancar as unhas.


A divisão do trabalho  - tarefas diferentes em simultâneo  - evidencia organização, fruto de experiência .



Lavagem e raspagem com pedra áspera.





Abrindo o reco, para retirar as miúdezas.


Da barriga fazem-se os rojões. Comidos à refeição, com grelos e batatas cozidas, ou com naco de pão, são sempre saborosos.







Tudo se aproveita para o fumeiro; até as tripas, depois de bem lavadas, para enchimento de alheiras, chouriças e salpicões.


Três horas depois, a matança dos recos chega ao fim. Dentro de dois dias faz-se o desmanche.


Satisfação, seguida  da festa da abundância, almoço no qual se comem os rojões e as primeiras carnes da marrã.  

Em conclusão, pelas terras da raia, a tradição ainda é quem mais ordena!