quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Natal com Neve

Que saudades, Deus meu!

- Como eram as nevadas na sua meninice,  senhora Palmira?
- Bô!!!
Lúcida, quase centenária, a mulher mais velha de Travancas, desfia memórias de uma vida inteira. Tem nos lábios o sorriso dos justos e, nos olhos guichos, a sabedoria da ancestralidade.



Mesmo sem a intensidade e a frequência das nevadas de antigamente, a neve volta todos os anos à montanha, cobrindo-a com um manto de brancura. Este ano, porém, tardou a chegar.



Como prenda enviada do céu, veio na véspera do nascimento de Jesus, quando as famílias se preparavam para a ceia de Consoada. Silenciosa, continuou a cair durante o dia de Natal, rejubilando corações e enchendo as gentes de orgulho, pela dádiva da Natureza à aldeia.




Recolhidos do frio, à lareira, peço à avó que me conte a história do pastor... da "Lã e a Neve". Em segredo, ouso pedir-lhe:
- Avó, põe as tuas mãos na minha fronte e dá-me a tua benção.
Sentindo a testa vitalizada por mãos ternas, calejadas do trabalho, caio nos braços de Morfeu.



segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Luzes do Natal

Saudações iluminadas

Depois de ter percorrido Travancas à noite, em meados do mês de dezembro, à procura de iluminações de Natal, fui até Argemil, São Cornélio e Roriz, com o mesmo objetivo.  

São raras as casas com decoração exterior  alusiva  às festas de fim de ano. Em São Cornélio não vi nenhuma. Em Roriz só encontrei uma residência enfeitada. Em Travancas e Argemil. as poucas casas com  iluminação  de Natal ficam à beira da estrada, onde a visibilidade por parte de terceiros é maior.



Coreto do Largo de São Bartolomeu e Café Central, este ano, com bonita iluminação, alusiva à quadra natalícia.


O Betinho decorando o interior do Café Central.


Casa em Travancas














Presépio do Lar do Senhor dos Aflitos. O presépio da igreja matriz ficou à espera de ser montado, para quando o marceneiro de Curral de Vacas  fizesse a nova cabana.




Argemil

Casa  tradicionalmente  iluminada na época do Natal.


Bairro das Poulinhas


Pinheiro no Bairro das Poulinhas



Roriz 

 
Em conclusão
A iluminação exterior das residências não é ainda um hábito enraizado nas aldeias do planalto.



Boas Festas aos amigos e visitantes do blogue.
Que 2014 seja um ano de paz no mundo  e que proporcione  bem-estar aos portugueses espalhados por todos os pontos cardeais da nossa casa global, o planeta Terra.




O Go b erno da casa

Matança, a tradição ainda é o que era
 
Por altura da Santa Luzia, terceiro domingo do Advento, o senhor José Pinto matou mais três recos. O tempo das matanças,  no entanto, vai continuar por janeiro fora, até ao São Sebastião.


Criação de leitões para o próximo ano, já. Não são todos brancos; há cruzamento com porcos de raça bísara, menos gordos e mais ao gosto dos consumidores de hoje.
 
Carne gorda na salgadeira, em parte destinada aos folares.  Na época em que não havia congeladoras, a carne era conservada em sal  ou era fumada
Nos tempos de antanho, o reco era o sustento da casa, ao longo do ano. Guardava-se o fumeiro nos lareiros, na adega e nas arcas.












Em tempos de vacas magras, a fartura começava no dia em que se matava o reco, a petiscar rijões. Terminado o proceso de cura, iam-se comendo alheiras, buchos, chouriças de sangue, linguiças, salpicões  e o presunto, cortado em nacos de pão.




Bons tempos, aqueles?  Há quem diga que agora, sempre há mais variedade!

Adeus lareira

Bem-vindo recuperador

Com a lareira da cozinha,  eu tínha o pote da água quente, o fole, o trasfogueiro e as tenazes com que mexia nas brasas, enebriado pelo fogo purificador. Sobre elas punha a grelha para grelhar a alheira e o assador de castanhas, pendurado à cremalheira, decorada com a candeia.












A lareira acabou há dias. Tinha a magia que falta ao recuperador. Às vezes adormecia ao pé dela, enquanto aquecia os pés, calçados com meias de lã de ovelha, feitas pela tia Marquinhas, e viajava feliz pelo universo da memória.

Nos últimos dias da lareira, envolvido pela nostalgia da perda, li O Alquimista, do escritor brasileiro, Paulo Coelho. Comprei-o num alfarrabista, na Capital du Vin Bordeaux, onde estive recentemente.   Tal como o alquimista procura transformar os metais em ouro, também eu devo descer à profundeza do meu Eu interior se quiser alcançar o elixir da vida ou Pedra Filosofal.


O recuperador quebrou o encantamento. A troco de mais calor e deixar de respirar fumo, fico afastado, sentado no escano, a olhar para  o lume, sem poder ouvir o crepitar das chamas por trás duma janela de vidro baço.

As tenazes, o pote, o fole e o trasfogueiro morreram, relegados para o canto dos objetos inúteis. É  um mundo que passa a pertencer ao passado, como o  chiar dos carros de bois que se ouviam nas ruas da aldeia.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Frio, frio, frio e sol

Muitas geadas, à falta de neve

Uma frente fria e seca trouxe geadas, atrás de geadas, em novembro e dezembro.


Sem poder cavar a terra, devido ao gelo, passei dias fechado em casa.


Até que numa radiante manhã de sol...


Saíndo ao encontro da vida, encontrei a dona Alzira  a cortar a gordura do reco para fazer unto...

... no tradicional pote de ferro.

Tinha matado no dia anterior e o desmanche seria no dia seguinte. 

No seu linhar, as couves, de tão brancas, pareciam cobertas de neve. 

Alguns telhados, apesar do sol lhes  bater ao raiar do dia, ainda  se conservavam brancos à hora da fotografia.




A mulher transmontana, como a mãe do Betinho, habituada ao trabalho, além da força física, tem a força moral dos clãs matriarcais.  Facilmente, ela e outras,  levantam sacos de 30kg de batatas e fazem frente ao mais empedernido dos homens.



Cabaças galegas.

No Vale da Bouça encontrei um dos vizinhos, com dois homens de Argemil, a cortar e a guardar lenha para o inverno de 2015.
Há que estar prevenido porque o frio é de rachar!
















sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Festa do Cordeiro em Roriz

Paga por negociante de castanha

No passado dia 1º de dezembro houve festa na aldeia vizinha que, como se sabe, faz parte da  União de Freguesias que junta Travancas e Roriz.


O convívio gastronómico não foi para  comemorar a Restauração da Independência, infelizmente o feriado foi extinto, mas para selar o bom relacionamento entre produtores e comprador de castanha.


Desde há vinte anos que o final da campanha da castanha é festejado desta forma. Em data aprazada, os de Roriz poem a mesa e o negociante de Rebordelo arca com a despesa.


À volta dela, no salão da Associação Cultural   e Recreativa, juntaram-se produtores de castanha, comprador e alguns convidados, para festejar um contrato que a todos  satisfaz e a ambas as partes interessa dar continuidade.


Para a festa foram assados três cordeiros no forno do povo.


Pão, vinho tinto e refrigerantes completavam  a refeição, servida em regime de self.-service.






Enquanto Travancas produz  em pouca quantidade, Roriz, rodeada de soutos, produz mais de 60 mil quilogramas de castanha. São vários os produtores  cuja colheita é superior a 5 toneladas de castanha, principalmente de variedade judia, paga a a mais de 2 € por kg..


Negociante de castanha com o senhor Antero Ginja, presidente da anterior Junta de Roriz e membro da atual Assembleia da União de Freguesias.


A confraternização  à volta da mesa prolongou-se pelaa tarde fora.



No próximo ano cá nos voltaremos a encontrar,  parecem dizer,  pelo ar de satisfação, representantes de produtores e de comprador de castanha.


Forno do povo, onde foram assados os cordeiros da festa