sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Darão-me os Reis?



Travancas, seis de janeiro, décadas de sessenta, cinquenta, quarenta do século vinte e muito, muito tempo antes...

A aldeia acordava bem cedo. Não havia escola e a criançada calcorreava as ruas, com tapetes de estrumeiras ásperas, indiferente ao ar gélido da manhã.


Levavam as casas a eito - "Boas Festas, darão-nos os Reis?" E lá vinham umas castanhas, uns figuitos, uns rebuçados, uma ´croa´, com sorte, até uma chouricita pequena.




Era o princípio da festa que até os adultos contagiava.
- "Darás-me os Reis?" - ouvia-se entre familiares, vizinhos e amigos que se iam encontrando...

- Estão bem ganhos! Aparece em minha casa logo à noite! Ou então, surgia, outra resposta bem brejeira, bem ao jeito transmontano:

- Isso querias tu! Mas ollha que já mijei!




Era assim. Hoje, as casas cheias de crianças estão vazias. As crianças de então são avós que ouvem, como eu já ouvi hoje:

- Que é isso de ganhar os reis?

Então fica a vontade enorme de repetir:

- Boas festas, darão-me os Reis?



Ainda não nevou este inverno! Aquecimento global, reespondem-me.

Texto: Mariana
Fotos de arquivo

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