domingo, 14 de fevereiro de 2010

Neva em Argemil da Raia II

Bairro antigo

Já é a segunda vez que palmilho Argemil para fotografá-la sob o manto branco da neve. Descobri que é uma aldeia extensa, maior que a sede da freguesia, cortada pela estrada em dois bairros com características distintas. Voltado a nascente, do lado de baixo da estrada, fica o casario antigo. Foi para lá que me dirigi para concluir a última etapa desta "reportagem".


Saindo da igreja de São Miguel desci por esta rua, ladeada de linhares e casas de granito, percorrendo-a até ao fundo do povo. Um dia depois da nevada andava-se bem de carro pelas ruas. A neve não pegara tão bem porque o chão estava molhado.


Pelo caminho fui encontrando cancelas a marcar o limite a partir do qual a propriedade é pessoal.


Tábuas, arames, fio, restos de portas, portões e janelas, tudo serve para fazer um cancelo.


A cada canelho, a cada recanto, o prazer de encontrar algo surpreendentemente belo.


Argemil, aldeia de montanha, faz as minhas delícias de fotógrafo amador. A natureza humanizada e a arquitetura granítica fazem dela uma aldeia culturalmente rica, a necessitar urgentemente da atenção dos responsáveis pela preservação do património edificado em meio rural.  O  que ficou preservado, ao abandono, durante décadas, por falta de recursos humanos e materiais, que não seja agora descaracterizado por modernismos travestidos de "progresso"!


Alminhas, de 1807, na parede de casa de lavoura, desabitada. O nicho, no entanto, parece ser posterior.


A hemorragia emigratória despovoou a aldeia, deixando habitações ao abandono.


Bonito exemplar de arquitetura rural. Felizmente que a renovação urbana de Argemil se fez nas Poulinhas deixando quase intacto o núcleo urbano primitivo. Doravante, a intervenção urbanística que se fizer, deve preservar a traça tradicionaal destas casas. A aldeia tem potencial para tirar proveito do desenvolvimento do turismo rural, atrativos não faltam.


Forno do povo a necessitar de um arranjo exterior que se enquadre e esteja em harmonia com a arquitetura existente.


Interior do forno comunitário, noutros tempos espaço de convívio entre vizinhos.


Aninhada na vertente ocidental da Serra de Mairos, Argemil parece ter muita água. São vários os bebedouros para animais, chafarizes e fontanários.


Fonte e lavadouro do fundo do povo. Com tempo frio e água gelada, será que alguém conseguia lavar roupa aqui, no inverno?


No bairro antigo não vi moradores tão jovens como nas Poulinhas. Este é o senhor Manuel Paulo Caldas a tomar um pouco de sol.


A senhora a rezar o terço chama-se Laurinda. Descobri-a num canelho, sentada à varanda.Inicialmente recusou ficar na foto alegando, por vaidade feminina, que não era bonita. Deixou-se convencer e que me aproximasse, permitindo que subisse à varanda, quando lhe falei que a imagem que guardo da minha mãe era a de uma senhora, como ela, a rezar o terço com as mãos ao colo. De fato, a minha mãe, sem ser beata, era uma mulher profundamente religiosa que acreditava ter visto o lugar dela no céu e que morreria sentada numa cadeira a rezar o terço.


Senhor Alberto a passar diante do lavadouro novo, coberto e com seis tanques, nos quais cada lavadeira sujava apenas a sua água. Imagino este espaço noutros idos e pergunto-me se alguém garante que nas conversas das lavadeiras, não se lavaria também a roupa suja de vizinhos.


O casal João Gonçalves e Maria Altina a encher o balde de batatas cortadas. Perante a minha admiração de terem tantos sacos de batata por vender, o cabeça de casal repondeu-me que não havia problema, davam-se aos recos! Pensei com os meus botões: -bom, a isto, na ausência de racionalidade de mercado, chama-se economia doméstica, virada para autoconsumo!


Depois de ter deixado o simpático casal, a senhora foi atrás, abrir uma loja para me mostrar, embevecida, os seus vitelos de vinte dias. Os animais tinham um ar meigo. No estábulo, qual arca do tesouro do casal, estavam também algumas vacas pretas, cuja raça desconheço. Argemil, com tantos lameiros, deve ter maior produção de gado bovino que Travancas.


Capela de São Miguel. Houve lugares da aldeia onde não fui por se fazer tarde. Passava do meio-dia quando fui tomar o pequeno-almoço ao café do sogro do Hermínio,técnico de informática. Mas Argemil é uma joia que merece renovado olhar!


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Neve em Argemil da Raia

Bairro das Poulinhas de branco




Dia 10 de Fevereiro de 2010 voltou a cair uma grande nevada no Planalto que vai da Bolideira a Travancas - a "montanha", como dizem em Chaves. Nessa tarde estive em São Cornélio e Travancas, não tendo tido tempo de ir a Argemil, a outra aldeia da freguesia.


No dia seguinte, pela manhã, sob um sol radiante mas com temperaturas negativas, fui a Argemil, onde estive algumas horas a fotografar paisagens que se perderão quando a neve derreter.


Comecei pelo bairro das Poulinhas. No alto da rua encontrei o senhor Gumezindo, Zindo para os amigos. Ao vê-lo lembrei-me da figura do Obelix, personagem gaulês, companheiro de Asterix, que se divertia a atacar as legiões romanas, em defesa da Gália, e a comer javalis assados.
Gumezindo é um nome invulgar. Será de origem germânica? Uma breve pesquisa na internet não me esclareceu mas não é improvavel que seja, uma vez que os Suevos terão estado na origem de Argemil. Esta tribo germânica, fixada em Trás-os-Montes, Minho e Galiza, fundou em Braga, no século V, o Reino Suevo, primeiro reino fundado por bárbaros na Península Ibérica, após a queda do Império Romano do Ocidente.


No alto das Poulinhas, apesar do frio intenso, encontrei diversos moradores a trabalhar ao ar livre.


Senhor Manuel Carvalhal a terminar de rachar lenha. Ao fundo vê-se o posto de vigia florestal.


Os irmãos Gaspar e Márcia a colocar uma rede de vedação no muro. Receio dos lobos? Gaspar é um nome que me faz retroceder à infância, quando aprendi como se chamavam os reis magos, e quando chorei por a professora me ter posto a interpretar o papel de Gaspar, um rapaz mau para com os passarinhos. Na verdade até subia às árvores à procura de ninhos e devo ter partido ovinhos de algum, mas na peça de teatro não gostava de ser mau!


Pedro, marido da Márcia, a reparar a motoserra.
Já tinha indícios - número de alunos a frequentar escola primária - de que a população de Argemil não é tão envelhecida como a de Travancas. A ronda pelo bairro das Poulinhas reforçou essa ideia. O Pedro e a Márcia são pais jovens. Será que não pensam ter mais filhos? Ainda gostava de reportar o nascimento de uma criança, festa de reprodução da família e de revitalidade da comunidade aldeã. Já que o governo central não tem uma política de apoio à natalidade, porque não a Câmara ou a Junta de Freguesia estimularem o nascimento de crianças dando cinco mil euros no nascimento do bébé, aos pais residentes, e mil euros no aniversário, durante os primeiros cinco anos?


Dona Nuri, esposa do ...


...Senhor Máximo


A dona "Ana, do Carlos". Encontrei-a à saída do bairro. Como já nos conhecêssemos, cumprimentámo-nos. A dona Ana é exceção que confirma a regra de que os homens são mais acessíveis do que as mulheres a deixarem fotografar-se por desconhecido.

O Bairro da Igreja


Escola primária fechada. No edficio apenas funciona o jardim de infância. A partir do presente ano lectivo de 2009-2010 os alunos passaram a ir às aulas a Mairos. Terá sido uma medida acertada as crianças irem tão longe à escola, especialnente as da freguesia de São Vicente da Raia?


Poulinhas e cancelo vistos da estrada.


A caminho...

...da igreja de São Miguel.


São Miguel Arcanjo é o padroeiro, patrono ou orago que, fora da igreja, protege a povoação de Argemil.


E a caminho do cemitério e de São Vicente da Raia!

Neva em Travancas

Planalto da Bolideira coberto de branco















































quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Neva em São Cornélio

Planalto da Bolideira coberto de branco

A neve, durante a tarde de 10 de fevereiro de 2010, voltou a cobrir de branco o planalto que se estende da Bolideira a Travancas. Quando fui para Chaves, à feira, apesar do intenso frio, nada me fazia prever que nevasse. Na cidade, pelo meio-dia, começou a chover e alguém disse que nevava em Vila Pouca e Vila Real.


No regresso da feira, pelas 15 horas, a chuva, a partir de Curral de Vacas para cima, dava lugar à queda de neve. Fiquei tão radiante que não resisti em partilhar, pelo moche, a minha alegria com a Princesa e a mãe.


Parei em São Cornélio, freguesia de Travancas. O aspeto da aldeia era aquele que as imagens transmitem.


Bem, as fotos por mais bonitas que sejam não transmitem toda a beleza captada pelo olhar e pelo tato.