domingo, 19 de abril de 2009

A Chave do Paraíso

Por Júlia Vaz

Ser bom e justo, viver e ensinar a viver, segundo os mandamentos da Lei de Deus, aceitar a vida por mais dura que ela seja sem revolta, eis “A Chave do Paraíso”.





Foi assim, aos olhos da sua filha Júlia, a senhora Maximiana, mulher de coragem e muitos trabalhos, mãe de oito filhos, que adorava:
"Mãe, eu me lembro como tu nos criaste com tanto amor; tu trabalhaste para que não nos faltasse o pão e a graça do Senhor.”




Conheci a Júlia quando andava a fotografar a aldeia, após um dos nevões que no Inverno deste ano cobriu de branco Travancas, por diversas vezes. Fotografei-a de longe e aproximei-me, pensando ser pessoa conhecida.




Mas ela sabia quem eu era. Como alguém lhe dissera que tinha um blogue, lembrou-se de me pedir para publicitar nele o seu livro de memórias, “A Chave do Paraíso”.




Pareceu-me ser uma mulher determinada na divulgação das suas memórias.





Pouco depois de nos termos conhecido, bateu-me à porta, trazendo o livro manuscrito em prosa e verso.



Entusiasmado com histórias simples de gente simples, fui com ela conhecer o seu mundo.

Abriu-me o portão …







E entrei na sua vida de todos os dias.






Entrei no seu passado, guardado no álbum, na companhia dos pais e irmãos.






A Júlia vivia com o pai, entretanto transferido para o Lar do Senhor dos Aflitos, por motivos de saúde.





A mãe partiu para sempre, faz hoje dois anos, uma vida inteira de canseiras que findou. Ficou a lembrança viva dos gestos, das palavras.









A memória guarda os conselhos da mãe que “em sonhos” lhe fala assim:
“Sejas honesta e simples como eu,
Para não dares que falar;
Para não fazeres o mal
Para te poderes salvar.”






E de tanto amor, da saudade, da tristeza da partida, nasceu o livro da Júlia, A Chave do Paraíso, que é certeza firme dum reencontro futuro, numa outra vida de paz e bem-aventurança.

Quando Chega a Saudade
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Sinto Falta



Tive um Sonho


Estas páginas revelam o gosto da sua autora pela escrita e pela leitura, qualidades apreciáveis em alguém a quem a vida não proporcionou muitos estudos. Há nestas páginas influência de textos litúrgicos, de poesia popular e literária, de cantares sagrados e profanos. É o que acontece por exemplo com o encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos de Emaús, a Laranjeira de Santa Isabel, o Lavrador da Arada, o Romance de Marinão, o Relógio do Emigrante ou o Credo das Almas.

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Três Histórias da Júlia

Grávida outra vez?
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O Relógio da Saudade
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Marinão
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Estas páginas também são ecos duma cultura que se vai perdendo, de valores um tanto esquecidos que a Júlia sabe guardar no seu coração.

o
Texto: Análise e selecção feita por Mariana
Fotos e arranjo: euroluso

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ainda há Pastores







Apascentando o rebanho
Nas encostas do planalto que vai da Bolideira à raia persiste a ancestral prática do pastoreio em regime extensivo. Dadim, Roriz, Mairos, Travancas e São Vicente são algumas das freguesias onde a presença de pastores é visível a quem circula na estrada.

Pastora de ovelhas
Excepção à regra, numa profissão tradicionalmente reservada ao sexo masculino.

Neste planalto, rico em pastagens, predomina o gado ovino.

Porém, as frequentes nevadas caídas no Inverno privaram os animais de pastagens, obrigando os pastores a deixar os rebanhos nas lojas e a suportar os custos da alimentação do gado.






Na freguesia de Travancas, segundo estimativas de um pastor, há cerca de 2 500 ovelhas, distribuídas por quatro rebanhos em São Cornélio, outros quatro em Argemil e um na sede da freguesia.





No entanto, para quem apascenta o rebanho na zona da raia deixou de ser rentável ter gado desde que os espanhóis começaram a deitar herbicida nas pastagens. Envenenado, o gado morre e os prejuízos são muitos.



O leite produzido é escoado, não há produção local de queijo.




Madredeus - O Pastor

Clicar em pastor para ouvir a música

Ai que ninguém volta

Ao que já deixou

Ninguém larga a grande roda

Ninguém sabe onde que andou

Ai que ninguém lembra

Nem o que sonhou

E aquele menino canta

A cantiga do pastor

Com as Cabras na Neve

terça-feira, 7 de abril de 2009

Domingo de Ramos

A tradição ainda é o que era





Reencontro com os “heróis” de vídeos que fiz sobre as nevadas em Travancas e São Cornélio.






A visão de crianças segurando ramos de oliveira, loureiro e alecrim, enfeitados com bolachas e rebuçados, trouxe-me à memória o Domingo de Ramos passado na aldeia onde nasci.
Felizes, eu e os irmãos, íamos, rua abaixo, à Casa Grande, levar o ramo à madrinha e receber, em troca, uma prenda.








Embora a tradição das crianças levarem o ramo à madrinha se vá perdendo, permanece o bonito costume de enfeitá-lo.

















Em Travancas, a bênção dos ramos, seguida de procissão e missa, é uma festa religiosa que junta a comunidade das três aldeias da freguesia: Argemil, São Cornélio e Travancas.


No largo, junto ao lar dos idosos, juntou-se muito povo à espera do senhor padre Delmino para a bênção dos ramos.


















Na tradição católica o Domingo de Ramos marca o fim da Quaresma e o início da Semana Santa. A festa celebra a entrada de Jesus Cristo em Jerusalém, onde ia passar a Páscoa judaica com os discípulos.




Jesus entrou na cidade montado num burro, aclamado pela população como o Messias, o Rei de Israel.









"Hossana ao filho de David”, salva-nos filho de David, gritava o povo sofrido à passagem de Jesus!










Bênção dos ramos pelo senhor padre Delmino












À cerimónia da bênção assistem idosos do Lar do Senhor dos Aflitos.











Procissão rumo à igreja

Celebração da missa na igreja matriz de São Bartolomeu






"Estamos reunidos em comunhão, em nome do Senhor."










"Saudai-vos uns aos outros e fazei-o de todo o coração."




Final da missa:
"Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe."





Ramo de oliveira benzido






Há quem o pendure, quem o guarde pelos diferentes cantos da casa ...



As manifestações religiosas, vistas como um fenómeno social, fazem parte do património humano de uma comunidade local e, como tal, devem ser preservadas, sob pena de, perante a globalização, a comunidade perder a sua identidade cultural.