sábado, 6 de dezembro de 2008

Nevão Histórico II

E tudo de branco ficou ...

Et tout est devenu blanc avec la neige ...
And the snow covered everything in white ...
Y la nieve cubrió todo de blanco ...


As fotos que se seguem, tiradas nos dias 30 de Novembro e 1 de Dezembro, ilustram a intensidade do nevão caído nos dias 28 e 29 de Novembro.









A cromática desta casa encanta-me, seja qual for a estação do ano!

Travancas é uma aldeia cuja toponímia foi enriquecida, a seguir ao 25 de Abril de 1974, com nomes então em voga. O PSD já ganhou eleições mas a Junta é quase sempre PS. Aliás, referências a ligações antigas da aldeia ao "reviralho" são feitas por José Cardoso Pires na obra Balada da Praia dos Cães.








Os tractores foram fundamentais na abertura de caminhos, rompendo o isolamento provocado pelo nevão e pela geada.








Carro de emigrante





Este ano não pude vir ao cemitério no Dia dos Mortos. A fotografia e a neve trouxeram-me cá agora. No entanto tenho de voltar brevemente para mandar arranjar a campa da tia.




Diz-se que «cão que ladra não morde» mas este, de olhar meigo, nem sequer latiu! Ocupado a apanhar sol, afastou-se quando me aproximei.




A neve, impedindo os animais de apascentar, torna-se um problema para quem tem de dar de comer ao gado.








Afastado do núcleo urbano antigo, este lugar é dos mais bonitos de Travancas, com vistas largas para a veiga de Chaves, castelo de Monforte, serras do Barroso, Larouco, Gerês e Vale Grande.






Pequeno boneco de neve feito por mãos de artista.



























Cruzeiro. Que belo, coberto pea neve!














E se em vez de campo de futebol fosse um campo de hoquei no gelo!




Devido a afazeres na Terra Quente, na tarde de Segunda-feira, 1 de Dezembro, tive de deixar Travancas.





Fiquei com pena de não ter regressado ao Vale Grande com céu limpo ....
... E de não ter fotografado a capela do Senhor dos Aflitos, por falta de tempo para ir lá a pé. De carro era perigoso!







Marco de Argemil, onde nunca fui, visto da estrada de Travancas.





Ficar, desfrutar deste bucolismo e agarrá-lo na imagem, para memória futura, teria sido uma opção que infelizmente não podia tomar porque da minha partida dependiam rumos de outrém.








Ficaram por colher, sob a neve, os morangos que uma semana antes fotografara, admirado por vê-los no Inverno, e tão grandes, apesar do frio.


E parti sem apanhar grelos, igualmente sob a neve...





Entre Roriz e Travancas.
Um adeus à Terra Fria.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A Nevada no Vale Grande


Durante o nevão, que cobriu de branco as terras altas de Trás-os-Montes, fui por duas vezes à Cota de Mairos, no alto do Vale Grande, uma das quais com o engenheiro Batista.





Primeiro fui com um sobrinho brasileiro, de passagem por Trás-os-Montes, para conhecer as suas raízes.



Fomos na Sexta-feira de tarde, dia 28 de Novembro, logo a seguir à paragem da primeira queda de neve.

Até à fronteira, o carro subiu sem problema.




Todavia, a meio da subida do estradão de terra batida, de acesso à Cota de Mairos, começou a derrapar na camada de neve.






Descemos do carro e subimos a pé até ao alto da Cota, em território espanhol.

Pelo caminho vimos pegadas de um animal e identificamos o local onde parou para urinar. Seria um lobo?







Junto à cota, a 1066 metros de altitude, a camada de neve era diminuta, possivelmente por efeito da humidade do nevoeiro.







O nevoeiro cerrado não permitia que avistássemos a veiga de Chaves, terras da Lomba, serras portuguesas de Valpaços, Montezinho, Paradela, Barroso, Larouco e Gerês, assim como as serras de Manzaneda e Sanábria, em Espanha.






Fomos, depois, até aos aerogeradores, em território português, tendo passado junto ao marco fronteiriço.



Por fim regressámos ao carro, tendo andado de marcha atrás até à estrada que segue para Arçádegos, aldeia galega na encosta Norte da Cota de Mairos.

Tojos floridos


Segunda viagem ao Vale Grande
À procura de mais emoções na neve
Sábado, 29 de Novembro



No Sábado, dia 29 de Novembro, num dos intervalos em que a neve não caía, tirei fotos a um jovem pai e filha que faziam um boneco de neve no Largo de São Bartolomeu.





Quando o ouvi dizer que iam de tractor ao Vale Grande, perguntei-lhe se podia ir com eles.

Respondeu-me que sim, tendo passado por minha casa - onde fui agasalhar-me melhor - para me levar.





- Ela vem de Espanha, é fria!
E lá fomos os três, de tractor, num momento em que a neve recomeçou a cair intensamente, dificultando a visibilidade.




A neve, a cair desde o dia anterior, deixou os campos cobertos de uma grossa camada de brancura. Mas nada que pudesse impedir o tractor de avançar pelo planalto acima!



A paisagem era magnífica, fazendo lembrar, em alguns locais, os mais bonitos postais de Natal.



O tractorista, com a neve a bater-lhe no rosto, resistiu com estoicismo à tempestade e subiu até à Cota de Mairos.
Posteriormente, dizendo o nome dele à minha mulher, natural de Travancas, fiquei a saber que esse educado senhor era afinal um prestável engenheiro - engenheiro Batista - a quem agradeço a amabilidade de me ter proporcionado o passeio de tractor ao Vale Grande.





domingo, 30 de novembro de 2008

Nevão histórico em Travancas

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Boneco de neve no Largo de São Bartolomeu, sala de visitas da aldeia.
Travancas é terra de neve, faz parte da Terra Fria transmontana. Porém, com as alterações climáticas os nevões deixaram de ser tão intensos e frequentes. Por isso, para todos os que de nós sentem saudades dela, é uma alegria vê-la chegar cedo e em força neste Outono.


Sábado, dia 29 de Novembro, levantei-me cedo para apreciar a paisagem nevada, iniciada na tarde do dia anterior.

O cabanal e o quinteiro estavam cobertos por um manto de neve fofa e o termómetro, na varanda, indicava dois graus negativos.







A neve, branca e leve, branca e fria, pôs tudo da cor do linho”










Subi à Roçada, no primero passeio pela aldeia.







Alfaias agrícolas na eira do Tó Ribeiro
Cruzamento da estrada para Arzádegos (Galiza)

Casa na Rua de Espanha
Até à estrada que vai de Travancas para Argemil não encontrei ninguém na rua. Por onde andei, era o primeiro a pisar o manto de brancura que, de manhã, cobria Travancas e todo o planalto ao redor!
Só nas proximidades do Café Central ...

... é que vi um ou outro morador que ia ou vinha do café.
A neve, ora continuava a cair...










... ora abrandava.

O condutor deste carro bem manobrou e acelerou para subir a rua que contorna o largo de São Bartolomeu. Em vão, nem empurrado! Para mim foi um momento divertido, entretido a filmar a cena.

Espero colocar o vídeo no You Tube, partilhando desse modo um momento imperdível a que tive a sorte de assistir com a máquina fotográfica em punho.






Satisfeito, pelo primeiro contacto com o nevão, regressei a casa, para o calor da lareira.






Durante o dia fui várias vezes à rua com a finalidade de fotografar Travancas cobertas de neve.
Afinal, embora não fosse a primeira vez que via nevões em Travancas, era uma sorte nevar com tanta intensidade quando me encontrava na aldeia.
Fui para o bairro da igreja.
Ainda subi à torre sineira mas tive medo de escorregar.







Portão de ferro e neve.




Do adro tem-se uma bonita vista das casas situadas do outro lado da ribeira do Cabanco.
A ribeira, onde as mulheres mais velhas lavavam a roupa, foi canalizada.

No papel de repórter fotográfico cruzei-me com alguns moradores. Um deles, num breve diálogo, comentou, com imaginação, que parecia o Pai Natal! lol

Senhor Delmar a caminho do Café Central



A rua, junto ao lar da terceira idade, animou-se com a passagem de homens e crianças ...

... saídos à rua para ir buscar lenha.






Uma família, unida pelo trabalho e na alegria.






A mimoseira não aguentou tanta neve!
Que lindo, uma mulher tipicamente transmontana! Esta senhora, com o xaile sobre os ombros, parece saída da capa do livro que tenho em casa, Terra Fria, de Ferreira de Castro e cuja acção se passa no Barroso há mais de meio século.

A Terra Fria é cada vez menos fria mas Travancas, sob a neve, faz avivar a memória desses tempos idos.







São Bartolomeu, padroeiro de Travancas, abrigado da intempérie.


O largo do coreto é local de festejos: Baile, no São Bartolomeu; e bonecos de neve, no nevão, feitos por crianças grandes e pequenas.





O divertimento é patente.


Uma das razões que me levou a Travancas foi a recolha das abóboras. O Tó Ribeiro ensinara-me a plantá-las. A colheita não foi grande mas o suficiente para ainda dar a amigos.

Durante a estadia experimentei fazer doce de abóbora. A primeira tentativa, durante três dias, em panela de ferro, foi decepcionante. O doce ficou em caramelo, duro como pedra!

A segunda tentativa, feita na noite anterior à partida da aldeia, já resultou mas ainda ficaram a faltar o cravo-da-índia e pedacinhos de amêndoa, como faziam a avó Luísa e a mãe.













O nevão permitiu transformar as ruas da Roçada e 1º de Maio em pistas de tabogan.






A espessura da neve permitia inclusive a utilização de esquis, se os houvesse à mão! Uma questão a pensar!






Para o menino o nevão vai ser inesquecível. Brincou, brincou ….
… mas faltavam-lhe amigos para o acompanharem na brincadeira!



Novos e velhos apreciadores de neve. O senhor Acúrcio, apesar da idade e da dificuldade em andar, não prescindiu do seu habitual passeio ao café, único lugar público da aldeia onde se pode estar com amigos e vizinhos, com algum conforto, fora de casa.








Travancas, na terra fria,
Vestiu-se toda de branco;
A neve leve caía,
Cobrindo-a com seu manto.





Tão bonito foi de ver
Tudo raso de alvura!
Lençol imenso de linho,
Estendido lá na altura!




Como é bonita a aldeia
Debaixo deste nevão
Há muito que não se via
Assim, tão grossa, no chão!

Quadras feitas por Mariana